Médicos lutam por piso maior para consultas
05/07/2011 07:06
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Além dos hospitais, as reclamações também atingem clínicas e consultórios. Ainda não há perspectiva de parar
A insatisfação com o repasse dos planos de saúde não se restringe aos médicos que atuam nos hospitais. Os médicos que atuam em clínicas e consultórios lutam para estabelecer um piso nacional de R$ 80,00 para o valor da consulta, mas por enquanto não há expectativa de paralisação no atendimento.
"Em Fortaleza, só o plano de saúde da Petrobras paga R$ 80,00. Hoje, os planos pagam uma média entre R$ 35,00 e R$ 40,00 por consulta, e se o médico não atender particular ou não fizer procedimentos, como parto e cirurgia, não consegue manter o consultório", alerta o presidente do Sindicato dos Médicos do Estado do Ceará (Simec), José Maria Pontes.
Em matéria veiculada na edição de ontem do Diário do Nordeste, o presidente da Associação dos Hospitais do Estado do Ceará (Ahece), Luiz Aramicy Bezerra Pinto, disse que os hospitais podem suspender os atendimentos para usuários da Unimed Fortaleza, caso o plano não regularize os contratos e a tabela de pagamento defasada.
De acordo com José Maria Pontes, de 2000 a 2009 os usuários de planos de saúde tiveram suas mensalidades reajustadas em 131%. Porém, o valor das consultas médicos teve incremento de apenas 59% no mesmo intervalo de tempo. "Um valor bem abaixo da inflação no período, que foi de 90%", ressalta o presidente do Simec.
Sobrecarga de trabalho
Diante da sobrecarga de trabalho e dos baixos valores pagos pelos planos de saúde, muitos médicos deixam de aceitar pacientes conveniados. Há 17 anos, o neurologista João José Carvalho decidiu atender em seu consultório apenas de forma particular.
"Chegou um ponto que eu não tinha mais qualidade de vida, atendia pacientes de 13h30 à 1 hora da madrugada. Os pacientes tinham que marcar consulta cinco meses depois, porque eu achava que não devia fazer diferença entre quem era de plano e quem era particular. E antes que isso comprometesse a qualidade do atendimento, resolvi cancelar o convênio com os três planos a que eu era conveniado", explica.
Com 30 anos de experiência, o médico cobra hoje R$ 390,00 por consulta, valor que jamais obteria através dos planos de saúde. "A remuneração do plano de saúde é injusta sob vários aspectos. Primeiro pelo valor em si, que é muito baixo. Outro problema é que os planos não fazem diferença entre um médico com experiência e que investe na formação acadêmica e um médico recém-formado, pois ambos são remunerados igualmente. O problema é que os planos deveriam valorizar a perícia e, sobretudo, a experiência dos profissionais".
Uma outra distorção, segundo ele, é a valorização excessiva dos exames complementares, em que o médico que realiza o procedimento pode ganhar de três a cinco vezes mais em relação a uma consulta médica.
PLEITO DE 5,41%
Reposição ainda é impasse
Ainda não existe acordo de reajuste contratual entre a Associação dos Hospitais do Estado do Ceará (Ahece) e a Unimed Fortaleza. Na tarde de ontem houve uma reunião com representantes de dez hospitais que compõem a rede de atendimento do plano, mas a operadora de saúde ainda não se manifestou. "Nossos contratos estão vencidos desde janeiro. Estão ganhando tempo e dinheiro. Isso fez com que tivéssemos que pedir até a intervenção da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar). Estamos querendo apenas a reposição inflacionária dos contratos, que é de 5,41%", afirmou o presidente da Ahece, Luís Aramicy Pinto. Segundo ele, hoje à tarde está prevista uma nova reunião com os membros da rede hospitalar para debater a defasagem da tabela. "Enviamos uma proposta de reajuste no dia 18 de maio, mas ainda não tivemos sinalização de nada", emendou.
Atendimento
O problema ocasiona, segundo ele, a impossibilidade da manutenção do atendimento aos usuários da Unimed, principalmente nos setores mais sensíveis e de maior movimentação, como as urgências e emergências, onde, atualmente, o valor pago por consulta é de R$ 30, quantia, segundo a Ahece, insuficiente para manutenção de um serviço tão complexo.
"Não queremos paralisar o atendimento, queremos negociar. Temos esperança que a Unimed ainda nesta semana nos procure para conversarmos novamente. Na realidade, já tínhamos o direito de nem estar mais atendendo, até porque do ponto de vista jurídico já estamos sem contrato. Contudo, não queremos prejudicar os usuários", informou Aramicy Pinto.
Sobre o assunto, a Unimed se posicissonou através de nota explicativa veiculada na edição de hoje do Diário do Nordeste (Caderno de Cidade).
"A cooperativa esclarece que todos os seus contratos com a rede hospitalar credenciada encontram-se vigentes. A contratação desses prestadores é feita individualmente, sendo que a maior parte das negociações de reajustes para o ano de 2011 já foi concluída com sucesso", diz trecho da nota.
PRIORIDADE
Profissionais privilegiam paciente particular
Enquanto o impasse entre médicos e planos de saúde permanece, o paciente conveniado sofre para conseguir marcar uma consulta. Muitos médicos privilegiam o cliente particular, que consegue horário no mesmo dia ou durante a semana, enquanto os que têm plano de saúde precisam esperar meses para conseguir atendimento.
"O médico é um profissional liberal, que tem liberdade de organizar seu esquema de atendimento da forma que mais lhe convém. O que acontece é que, no contrato com o plano de saúde, o médico se compromete a atender seus pacientes em determinados dias da semana, e como o número de conveniados é muito grande, acaba ocorrendo essa espera", argumenta José Maria Pontes.
Pagamento complementar
Outra prática comum é o paciente ser atendido pelo plano de saúde, mas ter que desembolsar um valor à parte para receber atendimento. O presidente do Simec-CE diz que isso acontece por conta do baixo valor do repasse, e que o paciente pode pedir ao plano de saúde reembolso da diferença paga. Mas de acordo com a assessoria jurídica do Procon-CE, a prática é abusiva. Isto porque se o médico e um plano de saúde celebram um contrato, ele aceita ser remunerado pela consulta no valor repassado pelo plano, e não pode cobrar a mais por isso.
Para a ANS, as medidas de enxugamento do tempo de espera por consultas, que entrará em vigor em setembro próximo, deverá colaborar para reduzir a prática de alguns profissionais de priorizar atendimento particular. Além disso, a ANS alerta que o acesso aos serviços contratados pelo beneficiário deve ser garantido pelo plano de saúde e é vedada a cobrança de valores adicionais por consultas.
KAROLINE VIANA
REPÓRTER
A insatisfação com o repasse dos planos de saúde não se restringe aos médicos que atuam nos hospitais. Os médicos que atuam em clínicas e consultórios lutam para estabelecer um piso nacional de R$ 80,00 para o valor da consulta, mas por enquanto não há expectativa de paralisação no atendimento.
"Em Fortaleza, só o plano de saúde da Petrobras paga R$ 80,00. Hoje, os planos pagam uma média entre R$ 35,00 e R$ 40,00 por consulta, e se o médico não atender particular ou não fizer procedimentos, como parto e cirurgia, não consegue manter o consultório", alerta o presidente do Sindicato dos Médicos do Estado do Ceará (Simec), José Maria Pontes.
Em matéria veiculada na edição de ontem do Diário do Nordeste, o presidente da Associação dos Hospitais do Estado do Ceará (Ahece), Luiz Aramicy Bezerra Pinto, disse que os hospitais podem suspender os atendimentos para usuários da Unimed Fortaleza, caso o plano não regularize os contratos e a tabela de pagamento defasada.
De acordo com José Maria Pontes, de 2000 a 2009 os usuários de planos de saúde tiveram suas mensalidades reajustadas em 131%. Porém, o valor das consultas médicos teve incremento de apenas 59% no mesmo intervalo de tempo. "Um valor bem abaixo da inflação no período, que foi de 90%", ressalta o presidente do Simec.
Sobrecarga de trabalho
Diante da sobrecarga de trabalho e dos baixos valores pagos pelos planos de saúde, muitos médicos deixam de aceitar pacientes conveniados. Há 17 anos, o neurologista João José Carvalho decidiu atender em seu consultório apenas de forma particular.
"Chegou um ponto que eu não tinha mais qualidade de vida, atendia pacientes de 13h30 à 1 hora da madrugada. Os pacientes tinham que marcar consulta cinco meses depois, porque eu achava que não devia fazer diferença entre quem era de plano e quem era particular. E antes que isso comprometesse a qualidade do atendimento, resolvi cancelar o convênio com os três planos a que eu era conveniado", explica.
Com 30 anos de experiência, o médico cobra hoje R$ 390,00 por consulta, valor que jamais obteria através dos planos de saúde. "A remuneração do plano de saúde é injusta sob vários aspectos. Primeiro pelo valor em si, que é muito baixo. Outro problema é que os planos não fazem diferença entre um médico com experiência e que investe na formação acadêmica e um médico recém-formado, pois ambos são remunerados igualmente. O problema é que os planos deveriam valorizar a perícia e, sobretudo, a experiência dos profissionais".
Uma outra distorção, segundo ele, é a valorização excessiva dos exames complementares, em que o médico que realiza o procedimento pode ganhar de três a cinco vezes mais em relação a uma consulta médica.
PLEITO DE 5,41%
Reposição ainda é impasse
Ainda não existe acordo de reajuste contratual entre a Associação dos Hospitais do Estado do Ceará (Ahece) e a Unimed Fortaleza. Na tarde de ontem houve uma reunião com representantes de dez hospitais que compõem a rede de atendimento do plano, mas a operadora de saúde ainda não se manifestou. "Nossos contratos estão vencidos desde janeiro. Estão ganhando tempo e dinheiro. Isso fez com que tivéssemos que pedir até a intervenção da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar). Estamos querendo apenas a reposição inflacionária dos contratos, que é de 5,41%", afirmou o presidente da Ahece, Luís Aramicy Pinto. Segundo ele, hoje à tarde está prevista uma nova reunião com os membros da rede hospitalar para debater a defasagem da tabela. "Enviamos uma proposta de reajuste no dia 18 de maio, mas ainda não tivemos sinalização de nada", emendou.
Atendimento
O problema ocasiona, segundo ele, a impossibilidade da manutenção do atendimento aos usuários da Unimed, principalmente nos setores mais sensíveis e de maior movimentação, como as urgências e emergências, onde, atualmente, o valor pago por consulta é de R$ 30, quantia, segundo a Ahece, insuficiente para manutenção de um serviço tão complexo.
"Não queremos paralisar o atendimento, queremos negociar. Temos esperança que a Unimed ainda nesta semana nos procure para conversarmos novamente. Na realidade, já tínhamos o direito de nem estar mais atendendo, até porque do ponto de vista jurídico já estamos sem contrato. Contudo, não queremos prejudicar os usuários", informou Aramicy Pinto.
Sobre o assunto, a Unimed se posicissonou através de nota explicativa veiculada na edição de hoje do Diário do Nordeste (Caderno de Cidade).
"A cooperativa esclarece que todos os seus contratos com a rede hospitalar credenciada encontram-se vigentes. A contratação desses prestadores é feita individualmente, sendo que a maior parte das negociações de reajustes para o ano de 2011 já foi concluída com sucesso", diz trecho da nota.
PRIORIDADE
Profissionais privilegiam paciente particular
Enquanto o impasse entre médicos e planos de saúde permanece, o paciente conveniado sofre para conseguir marcar uma consulta. Muitos médicos privilegiam o cliente particular, que consegue horário no mesmo dia ou durante a semana, enquanto os que têm plano de saúde precisam esperar meses para conseguir atendimento.
"O médico é um profissional liberal, que tem liberdade de organizar seu esquema de atendimento da forma que mais lhe convém. O que acontece é que, no contrato com o plano de saúde, o médico se compromete a atender seus pacientes em determinados dias da semana, e como o número de conveniados é muito grande, acaba ocorrendo essa espera", argumenta José Maria Pontes.
Pagamento complementar
Outra prática comum é o paciente ser atendido pelo plano de saúde, mas ter que desembolsar um valor à parte para receber atendimento. O presidente do Simec-CE diz que isso acontece por conta do baixo valor do repasse, e que o paciente pode pedir ao plano de saúde reembolso da diferença paga. Mas de acordo com a assessoria jurídica do Procon-CE, a prática é abusiva. Isto porque se o médico e um plano de saúde celebram um contrato, ele aceita ser remunerado pela consulta no valor repassado pelo plano, e não pode cobrar a mais por isso.
Para a ANS, as medidas de enxugamento do tempo de espera por consultas, que entrará em vigor em setembro próximo, deverá colaborar para reduzir a prática de alguns profissionais de priorizar atendimento particular. Além disso, a ANS alerta que o acesso aos serviços contratados pelo beneficiário deve ser garantido pelo plano de saúde e é vedada a cobrança de valores adicionais por consultas.
KAROLINE VIANA
REPÓRTER