Hotéis fantasmas

26/04/2011 08:51

Cidade
Hotéis fantasmas

 

Adriano Villela

 

Numa avaliação preliminar, Salvador parece estar bem preparada em termos hoteleiros. São 50 mil leitos atualmente disponíveis e mais 10 mil previstos para os próximos quatro anos. Mas projetos em atrasos e crise de alguns empreendimentos ameaçam este cenário. O Hilton e o Hotel da Bahia são os exemplos mais contundentes deste ‘calcanhar de aquiles’.

A última grande inauguração do setor em Salvador – o Grand Hotel Stela Maris - ocorreu há três anos. Neste mesmo período, crise financeira levou o Sofitel a vender o hotel em Itapuã para o grupo Deville, em 2009, e o tradicional Tropical Hotel da Bahia, fechado em 2010.

Projeto anunciado em 2006, o hotel Hilton ainda não saiu do papel. O empreendimento enfrentou resistência na fase de licenciamento por envolver um prédio histórico no bairro do Comércio. Esta etapa foi cumprida. Já o Hotel da Bahia foi adquirido pela GJP, empresa do grupo CVC, que está aplicando R$ 15 milhões na reformulação do empreendimento.

Há uma previsão de abertura em dezembro deste ano, mas nem a assessoria da empresa confirma a data. O Hotel da Bahia foi o primeiro construído com a intenção de fomentar o turismo baiano. Há mais dois hotéis fechados na capital baiana, estes sem nenhuma destinação conhecida: o Salvador Praia Hotel, em Ondina, e tradicional Palace, na Rua Chile.

O presidente do Sindicato de Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares (Sindihoteis), Silvio Pessoa, apresentou uma das explicações para as dificuldades financeiras. Apesar de ter uma taxa de ocupação média de 67% e ter vivido a melhor procura dos últimos anos em janeiro de 2011, os hotéis de Salvador têm a diária mais barata do país, gerando uma rentabilidade pequena, comprometendo a capacidade de endividamento dos empreendimentos.

Conforme dados do Sindihoteis, nas unidades de três estrelas, a taxa varia de R$ 100 a R$ 120/dia. Este valor sobe para R$ 120 a R$ 180 (quatro estrelas) e R$ 180 a 240 (cinco estrelas).

“Estamos conscientizando os hotéis de que eles precisam melhorar seus preços”, afirmou. O presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagem da Bahia (Abav), Pedro Galvão, raciocina de forma diferente.”A indústria hoteleira não melhorou seus preços nos últimos três anos, colaborando para a alta ocupação. Mas eles estão num patamar razoável”.

Para Pedro Costa, presidente do Convention Bureau, de uma forma geral, a rede hoteleira de Salvador está preparada para a Copa do Mundo, mas ainda carece de hotéis de grande porte, com 600 a 700 apartamentos, e com centros de convenção. “O Fiesta tem um centro de convenções, mas é pequeno, tem cerca de 200 apartamentos”.

Luz no túnel - Após três anos somente para obter as licenças e fornecer explicações ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e Ministério Público, o Hotel Hilton pode enfim sair do papel.

De acordo com o chefe do Escritório de Revitalização do Comércio, da prefeitura de Salvador, as turbulências da economia internacional de 2008 também atrasaram o empreendimento, que terá 250 leitos.

“O governo de Portugal proibiu os bancos portugueses de financiarem projetos fora do país enquanto durar a crise”, contou. Há uma luz no final do túnel. O grupo Imocon vendeu a um sócio local 30% da Imocon Bahia. A promessa é de começar a obra ainda neste semestre e entrega em dezembro de 2012.

Unidades antigas carecem de modernização

Com idade média de 25 anos, nossos hotéis precisam de reforma e modernização, avalia o presidente do Sindhoteis, Silvio Pessoa. Por meio dos governos federal e estadual, o setor conseguiu um crédito no montante de R$ 300 milhões para reforma, ampliação e construção, com cinco anos de carência, 8,5% de juros ao ano e de 10 a 15 anos para pagar.

O dirigente assegura que a cidade possui hotéis de cinco estrelas em número suficiente para atender às exigências da Federação Internacional de Futebol (Fifa) visando a Copa do Mundo no Brasil. Sobre modernização, contudo, Pessoa considera que a situação confirma a frase do presidente da Fifa, Joseph Battler, em março deste ano, segundo a qual “a Copa de 2014 é amanhã. Os brasileiros acham que ela vai ser depois de amanhã”.

O presidente da Abav, Pedro Galvão, cita como um problema a ser enfrentado a variação brusca entre alta (dezembro até o Carnaval) e baixa estação. “É algo que interfere (na crise de alguns hotéis), mas não é só isso. O problema do Hotel da Bahia foi má gestão”.Segundo Galvão, a queda na baixa estação é ocasionada principalmente pela redução das viagens de famílias em virtude do fim das férias escolares.

A Bahia – trade e poder público - vem tentando reduzir o período de queda investindo no segmento turismo de negócios. Pedro Galvão mira ainda os públicos da terceira idade e GLS. Apesar de uma estimativa de crescimento de cinco pontos percentuais na Semana Santa deste ano – beneficiada pela quinta-feira ter caído em um feriado -, o dirigente da Abav reclama da prefeitura uma iniciativa que atraia turista na Semana Santa.

“Houve uma encenação da Paixão de Cristo mas sem divulgação e num lugar fechado, sem vários cenários, como em Nova Jerusalém (PE). Em 2005, a encenação aconteceu no Dique do Tororó, para 150 mil pessoas”, argumentou o presidente da ABAV.

A expectativa de Galvão é um trabalho articulado iniciativa privada e governos estadual e municipais para a programação de São João, visando principalmente atrair aos hotéis da capital dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, os três maiores centros emissivos de visitantes à Bahia durante o verão e regiões de pouca tradição junina.

Qualificação também é desafio

No dia 20 deste mês, o Ministério do Turismo e a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) firmaram uma parceria com o objetivo de capacitar 306 mil profissionais empregados na cadeia econômica do turismo até dezembro de 2013. Na ocasião do lançamento do projeto Bem Receber Copa, o presidente da ABIH nacional, Fermi Torquato, afirmou que a qualificação é o principal desafio para o torneio internacional de futebol.

Com diagnósticos parcialmente diferentes, representantes do trade baiano consideram que a Bahia não pode desprezar o problema. Para o presidente do Sindihoteis, Silvio Pessoa, há carências tanto de cursos superiores como no treinamento de técnicos. “Logo teremos de importar mão de obra de outros estados ou outros países, porque não estamos formando”.

Pessoa sustenta o posicionamento em dois argumentos principais: a existência de apenas uma faculdade de Turismo e outra de Hotelaria – enquanto o ramo de gastronomia possui três instituições - e a escassez de capacitações presenciais. “De 70 a 80% dos cursos são pela internet”, lamenta.

Para Pedro Costa, do Convention Bureau, a preparação de mão de obra “precisa avançar muito”, mas já vem evoluindo. “O Governo do Estado investiu R$ 15 milhões em capacitação. O Sebrae tem contribuído, o Senac e a iniciativa privada também. Não estamos começando do zero. Realizamos uma festa como o Carnaval, já sabemos receber o turista e conduzir (grandes eventos)”, pontuou.