Noites sem dormir: martírio na fila do seguro-desemprego; novo sistema causa demora
27/04/2011 07:56
Negócios
Noites sem dormir: martírio na fila do seguro-desemprego; novo sistema causa demora
Novo sistema é o maior causador da demora e redução de oferta de senhas nas unidades de atendimento
FOTO: THIAGO GASPAR
Segundo o Sine/ IDT, problema foi recorrente em outra regiões do País onde a nova metodologia já foi implantada
Olhos vermelhos, baixos pelo cansaço. A fala quase sem força de sair da boca, e o corpo completamente dolorido. Na mente, só o desejo de retornar para casa. Esse foi o resultado da "saga" de 15 horas de espera para que o entregador Henrique Eduardo da Silva conseguisse, finalmente, dar entrada no seguro-desemprego, em Fortaleza.
Ele chegou às 12h30 da madrugada na unidade de atendimento do Sine/ IDT, na Avenida Santos Dumont, na Aldeota. Como nas outras quatro tentativas nos últimos sete dias não conseguiu senha. "Só entregaram 20 fichas. Então vim pra cá (Superintendência Regional do Trabalho, na Av. 24 de Maio). Aqui, cheguei 1h20 e estou saindo agora", disse, apontando para o relógio da parede, que marcava exatamente 16h20. "Estou só o bagaço. Com fome e sono. O pior é que ainda vou ter que dirigir até em casa", revelou, com ar de preocupação. "Isso é um absurdo. Acho que o seguro-desemprego era pra ser resolvido logo no ato da demissão", sugeriu, apesar da notória vontade de economizar as palavras.
Com uma outra sugestão na cabeça - a de que o atendimento deveria ser pela internet -, e a senha 125 em uma das mãos, o vendedor Rafael Marinho foi mais precavido. Trouxe um lanche de casa na mochila e esperou só a metade do tempo do trabalhador que estava na sua frente na fila do atendimento (justamente o entregador Henrique Eduardo). A estratégia utilizada foi comprar um lugar com um primo por R$ 30. "Ele me devia essa grana. Então, fiz a permuta. Ele chegou de madrugada e às 9 horas me repassou a ficha", admitiu, depois de ter voltado outras quatro vezes.
"Tem muita gente que desistiu. Não aguentou esperar esse tempo todo e foi embora. Além disso, o sistema novo que eles puseram cai o tempo todo a quantidade de atendentes é pequena", contou Rafael, revoltado com a situação.
O trabalhador Glauber Ribeiro de Araújo reclamou de ter desembolsado R$ 15,50. Gastou R$ 5 com almoço e R$ 10,50 para estacionar sua motocicleta durante o dia inteiro. "Parei a moto em frente ao estacionamento às 5h30 da manhã. Quando abriu coloquei pra dentro. Já fui atendido, mas tinha um erro de digitação no cadastro. Tive que ir na Caixa Econômica resolver. Por isso demorou ainda mais. Já pensou se eu tivesse um carro, quanto não custaria?", disse, em tom de alívio.
Já o porteiro Osório de Souza Lima denunciou que antes de procurar o Centro da Cidade já tinha ido seis vezes na agência do Sine/ IDT, localizada na Avenida Francisco Sá, na Barra do Ceará. "Lá, é muito pior. Só têm 20 fichas, que são distribuídas no fim da tarde do dia anterior. É impossível desse jeito. Falta organização e respeito com a gente", desabafou.
Explicações e medidas
De acordo com o coordenador de Intermediação de Profissionais do Sine/ IDT, Antenor Tenório, a implantação do novo sistema denominado "Portal MTE mais emprego", criado pelo Ministério do Trabalho e Emprego e executado pelo Sine/ IDT, tem sido o principal motivo da demora no atendimento. "Como há 12 anos, quando houve a mudança no sistema pelo ´Sigae´, muito menos complexo do que esse porque não era on line, há um estresse por conta do período de adaptação tanto dos funcionários quanto dos trabalhadores. Mas a médio e longo prazo esse sistema novo vai trazer muitos benefícios".
Antenor informou desconhecer que as unidades estejam distribuindo senha de madrugada e informou que já estão sendo providenciadas medidas para amenizar a situação. "Estamos ampliando até o dia 6, o atendimento em mais uma hora. Isso vai ofertar mais senhas. Vamos inaugurar na próxima segunda-feira uma nova unidade no Centro, com 19 guichês, na Avenida Duque de Caxias. O problema é maior nas áreas de estrangulamento, ou seja, na Região Metropolitana. Além disso, tivemos que fechar nos dias 13, 14, 15 para transferir todos os dados para o sistema novo. Só aí somado ao feriadão foram cinco dias de demanda reprimida", justificou, destacando que Fortaleza está com mercado de trabalho bem aquecido e que houve um aumento no número de pedidos de seguro-desemprego em relação a igual período do ano passado. O que engrossa ainda mais a forte demanda.
ILO SANTIAGO JR.
REPÓRTER
Olhos vermelhos, baixos pelo cansaço. A fala quase sem força de sair da boca, e o corpo completamente dolorido. Na mente, só o desejo de retornar para casa. Esse foi o resultado da "saga" de 15 horas de espera para que o entregador Henrique Eduardo da Silva conseguisse, finalmente, dar entrada no seguro-desemprego, em Fortaleza.
Ele chegou às 12h30 da madrugada na unidade de atendimento do Sine/ IDT, na Avenida Santos Dumont, na Aldeota. Como nas outras quatro tentativas nos últimos sete dias não conseguiu senha. "Só entregaram 20 fichas. Então vim pra cá (Superintendência Regional do Trabalho, na Av. 24 de Maio). Aqui, cheguei 1h20 e estou saindo agora", disse, apontando para o relógio da parede, que marcava exatamente 16h20. "Estou só o bagaço. Com fome e sono. O pior é que ainda vou ter que dirigir até em casa", revelou, com ar de preocupação. "Isso é um absurdo. Acho que o seguro-desemprego era pra ser resolvido logo no ato da demissão", sugeriu, apesar da notória vontade de economizar as palavras.
Com uma outra sugestão na cabeça - a de que o atendimento deveria ser pela internet -, e a senha 125 em uma das mãos, o vendedor Rafael Marinho foi mais precavido. Trouxe um lanche de casa na mochila e esperou só a metade do tempo do trabalhador que estava na sua frente na fila do atendimento (justamente o entregador Henrique Eduardo). A estratégia utilizada foi comprar um lugar com um primo por R$ 30. "Ele me devia essa grana. Então, fiz a permuta. Ele chegou de madrugada e às 9 horas me repassou a ficha", admitiu, depois de ter voltado outras quatro vezes.
"Tem muita gente que desistiu. Não aguentou esperar esse tempo todo e foi embora. Além disso, o sistema novo que eles puseram cai o tempo todo a quantidade de atendentes é pequena", contou Rafael, revoltado com a situação.
O trabalhador Glauber Ribeiro de Araújo reclamou de ter desembolsado R$ 15,50. Gastou R$ 5 com almoço e R$ 10,50 para estacionar sua motocicleta durante o dia inteiro. "Parei a moto em frente ao estacionamento às 5h30 da manhã. Quando abriu coloquei pra dentro. Já fui atendido, mas tinha um erro de digitação no cadastro. Tive que ir na Caixa Econômica resolver. Por isso demorou ainda mais. Já pensou se eu tivesse um carro, quanto não custaria?", disse, em tom de alívio.
Já o porteiro Osório de Souza Lima denunciou que antes de procurar o Centro da Cidade já tinha ido seis vezes na agência do Sine/ IDT, localizada na Avenida Francisco Sá, na Barra do Ceará. "Lá, é muito pior. Só têm 20 fichas, que são distribuídas no fim da tarde do dia anterior. É impossível desse jeito. Falta organização e respeito com a gente", desabafou.
Explicações e medidas
De acordo com o coordenador de Intermediação de Profissionais do Sine/ IDT, Antenor Tenório, a implantação do novo sistema denominado "Portal MTE mais emprego", criado pelo Ministério do Trabalho e Emprego e executado pelo Sine/ IDT, tem sido o principal motivo da demora no atendimento. "Como há 12 anos, quando houve a mudança no sistema pelo ´Sigae´, muito menos complexo do que esse porque não era on line, há um estresse por conta do período de adaptação tanto dos funcionários quanto dos trabalhadores. Mas a médio e longo prazo esse sistema novo vai trazer muitos benefícios".
Antenor informou desconhecer que as unidades estejam distribuindo senha de madrugada e informou que já estão sendo providenciadas medidas para amenizar a situação. "Estamos ampliando até o dia 6, o atendimento em mais uma hora. Isso vai ofertar mais senhas. Vamos inaugurar na próxima segunda-feira uma nova unidade no Centro, com 19 guichês, na Avenida Duque de Caxias. O problema é maior nas áreas de estrangulamento, ou seja, na Região Metropolitana. Além disso, tivemos que fechar nos dias 13, 14, 15 para transferir todos os dados para o sistema novo. Só aí somado ao feriadão foram cinco dias de demanda reprimida", justificou, destacando que Fortaleza está com mercado de trabalho bem aquecido e que houve um aumento no número de pedidos de seguro-desemprego em relação a igual período do ano passado. O que engrossa ainda mais a forte demanda.
ILO SANTIAGO JR.
REPÓRTER